quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Panorama do Cinema de Animação Cearense


Nos dias 13 e 14 de novembro ocorreu o Panorama do Cinema de Animação Cearense, no auditório do CCBNB Juazeiro, que exibiu 15 filmes que representam uma vasta diversidade de olhares dos realizadores de animação do Ceará, contemplando mais de trinta anos de produção. Filmes de animação cômicos, experimentais, subjetivos, investigativos e históricos foram apresentados pela curadoria (composta por Telmo Carvalho e por mim, Diego Akel) e, logo após as exibições, também debatidos entre os presentes.








Após os filmes o debate tomou espaço, nos dois dias. Telmo Carvalho ressaltou a importância de cada um dos filmes no contexto de produção cearense e nacional, e a sua representatividade na filmografia de cada um dos realizadores. Procurei trazer à vista do público também o fato de que cada realizador tem um passado e história bem diferentes uns dos outros - além de animadores e cineastas de animação vários são também historiadores, pesquisadores, designers, quadrinistas e fotógrafos, o que traz inevitavelmente um diferencial de cada um dos filmes em relação ao todo da produção cearense.



O público fez muitas perguntas e diversas colocações interessantes, ressaltando possíveis referências dos trabalhos mostrados e desdobramentos das possibilidades apresentadas pelas produções exibidas. Também discutimos os bastidores das produções, apresentando algumas das técnicas utilizadas e detalhes da realização de vários trabalhos.





E no fim da mostra nos sentimos recompensados pela reação e recepção do público presente durante o Panorama. Agradecemos ao Sesc pela oportunidade e apoio, nas pessoas de Carlosnaik Veras e Elvis, além da nossa produtora Carolinne Vieira, que tornou possível mais esta etapa de exibição do cinema de animação cearense.

Fotografias de Diego Akel, Elvis e Carolinne Vieira.

Hoje a Mostra Contemporânea exibe "ESTRADA PARA YTHACA"

Hoje, as 19hs, no CCBNB será exibido o ultimo filme da programação da Mostra de Cinema Contemporâneo Cearense.

Realizado por quatro diretores, que também atuam, o filme "Estrada para Ythaca" é um filme de aventura, num caminho inesperado entre Fortaleza e Juazeiro.

Não percam o filme e seu debate logo após a sessão.

segue trailer:

Mostra Cearense Contemporâneo - dia 4 (terça)

Mostra Cearense Contemporâneo - dia 4 (terça)

por Marcelo Ikeda

Se nas sessões anteriores da Mostra Cinema Contemporâneo o documentário foi o gênero predominante – com a única exceção de Longa Vida ao Cinema Cearense, apesar de o curta ser proposto a partir de um contexto situacional, o que nos remete ao documentário – na sessão de segunda-feira a ênfase foi no gênero ficcional. No entanto, as estratégias de mise-en-scene dos quatro filmes são bastante diversas. De um lado, o clima soturno de As Corujas e seu diálogo ambíguo com o cinema de gênero, sua ênfase em compor atmosferas, a inspiração expressionista e a fonte literária (o conto de Moreira Campos). Já Alto Astral possui um humor particular e um trabalho singular com a caligrafia do celular. Em Alto Astral, o celular não é sinônimo de mobilidade, mas ao contrário, a ênfase é em planos parados e muitas vezes em planos gerais. O celular oferece um aspecto pixelado, tirando de foco determinadas áreas e recheando o filme com cores difusas, tornando o ambiente quase se como numa atmosfera onírica, em suspensão. Há um clima mórbido, uma melancolia, uma proximidade distante entre os jovens, uma dificuldade no contato do corpo, um filme de corpos ou partes dos corpos mas sem closes. Já Amor, de Ythallo Rodrigues, encheu a sala de amigos próximos, já que o diretor é do Cariri. Amor mostra um diretor que se desencanta do filme que vinha fazendo, e o abandona, buscando realizar um novo filme com sua atriz. Com isso, insere uma quebra narrativa na própria estrutura do filme, quando Ythallo (o diretor do curta e que ao mesmo tempo representa o papel do diretor dentro do filme) abandona sua própria equipe e passa a filmar sozinho, com sua atriz. Ou seja, há uma dobra não apenas na estrutura narrativa do filme mas em seu próprio processo de produção, como se o filme dentro do filme fosse um espelho do próprio processo de produção desse filme. Princesa, de Rafaela Diógenes, fruto do primeiro ateliê da segunda turma da Escola do Audiovisual, é um primor pelo rigor dos planos e pela maturidade como Rafaela, em seu primeiro trabalho como diretora, articula elementos de mise-en-scene e de direção cinematográfica, combinando tempos, ritmos, climas, direção de atores, sempre com muita economia e sabedoria. Em sua opção pela contenção, e pela coerência da discrição do uso dos elementos de linguagem, nunca exacerbados, mas sempre intensos, Princesa é um dos mais bem sucedidos trabalhos dessa nova safra de realizações.

Para fechar a sessão, um documentário: Supermemórias compõe um caleidoscópio afetivo, através de uma obsesseiva compilação de imagens em Super-8, que formam um painel das transformações da cidade de Fortaleza. Acredito que esse curta ecoe muito da personalidade de seu diretor, Danilo Carvalho, mais conhecido pelos inúmeros trabalhos como técnico e editor de som de diversos filmes do cinema cearense: essa curiosidade, esse jeito falante, ligeiramente disperso, mas extremamente afetuoso. Cada plano de Supermemórias flutua uma curiosidade em observar o mundo e ainda que o filme se estruture em blocos narrativos, é composto de associações livres, provocadas pela montagem de Fred Benevides, que realizou um verdadeiro tour de force em fechar esse enorme conjunto de imagens. Por trás disso, há cenas do próprio nascimento de Danilo, filmadas por seu pai, que se conjugam a cenas de sua esposa Camila, grávida de sua primeira filha. Esse diálogo com a vida, com renascimentos, com a força da natureza, com o afeto das pessoas, que se reformulam e que empurram o ciclo da vida para frente, como um motor curioso, às vezes sem muita lógica aparente, mas sempre formidavelmente belo, ainda que em suas superfícies, marca o encanto da fruição de Supermemórias, um caleidoscópio coletivo, mas ao mesmo tempo profundamente pessoal.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mostra Cearense Contemporâneo – dia 3 (segunda)

E no início fez-se o verbo (contra o vento)

por Marcelo Ikeda
(para Dellani Lima)

Escrevi numa ocasião, para o catálogo da mostra “nova cena cearense” para o Curta Cinema de 2009, que Vilas Volantes era a mais importante obra audiovisual da história do cinema cearense. Hoje, um ano depois, percebo cada vez mais intensamente que essa expressão não contém nenhum exagero. E o mais curioso disso é que essa obra não é um longa-metragem em 35mm mas simplesmente um média-metragem feito para televisão. Ou ainda, uma obra que não recebeu nenhum prêmio nos festivais de cinema nacionais ou internacionais, pois sequer foi exibida.

Mas então o que faz Vilas Volantes adquirir tamanho status? Acredito que a relevância de uma obra aconteça não apenas por suas qualidades intrínsecas mas por sua capacidade de ressoar, de influenciar a gestação de outras obras, de ser a ponta de lança de tendências de seu tempo. E, sem dúvida, nenhuma outra obra teve tamanha repercussão nos rumos futuros do cinema cearense quanto essa obra de Alexandre Veras.

Vilas Volantes apresenta-se como um documentário sobre algumas vilas pesqueiras do Ceará, em especial na região de Tatajuba, que foram transformadas pela ação do vento, deslocando dunas e soterrando casas, igrejas, memórias. Acontece que Alexandre Veras, cujos trabalhos anteriores dialogavam com a videoarte e a videodança, resolveu passar um mínimo de informações para preferir mergulhar nos tempos e nas sonoridades daquela região. Influenciado pelo cinema de Kiarostami e com uma pontinha de Tarkovsky e Sokurov, Vilas Volantes, beneficiado por um obsessivo trabalho de pesquisa da região, cristalizado na dissertação de mestrado de Ruy Vasconcelos, cuja contribuição para a obra foi fundamental, aposta num tipo de imersão, numa outra relação entre tempo e espaço, que evidencia o desejo do realizador de observar de forma respeitosa um modo de vida e registrá-lo no filme.

Alexandre Veras e sua reduzida equipe (o fotógrafo Ivo Lopes Araújo e o técnico de som Danilo Carvalho) ficaram mais de um mês coletando imagens e sons em Tatajuba, revendo o material captado, vendo filmes e fotos para preparar o espírito para ir a campo. Veras diz que Vilas Volantes poderia ter sido filmado em duas semanas se primasse por outro ritmo de produção, mas não seria esse filme, e sim outro. A ampla repercussão de Vilas Volantes, considerado um protótipo de excelência do concurso DOCTV, mostrou para uma jovem geração de Fortaleza que o futuro estava ali, que era possível realizar uma obra de grande potencial estético através de um modo de produção particular, sem grandes equipamentos ou recursos, essencialmente guiado pela afetividade. O carinho, a delicadeza, o cuidado com os detalhes, o envolvimento da equipe foram tão irradiantes que se revelaram uma base para o florescimento de outros e mais outros filmes e videos, completamente diferentes entre si, mas que tinham em comum uma potência, um desejo de se aventurar pelo audiovisual estabelecendo uma outra forma de relação com o produto final e com o próprio processo de elaboração do filme e da relação entre a equipe. Essa é a maior das contribuições de Vilas Volantes no atual cenário de produção cearense: ser um exemplo de uma possibilidade efetiva de articular um desejo (um pensamento, uma intenção) e um processo de realização (um modo de produção, uma relação menos pragmática com o fazer) para viabilizar uma obra de grande potência artística e de visibilidade no cenário nacional, também fora do Ceará.

Ou seja, Vilas Volantes abriu um caminho. Vilas Volantes não possui a radicalidade de Uma Encruzilhada Aprazível ou Sábado à Noite, outros DOCTVs realizados logo em seguida a Vilas, mas o impacto de Vilas está todo lá nesses filmes. Esses filmes não poderiam ter sido feitos da forma como o foram sem que Vilas tivesse existido antes deles. É como se diante de toda a precariedade da atual Tatajuba, mais que lamentar de forma nostálgica o passado soterrado pelo vento, Alexandre Veras visse no abandono do presente uma potência renovada de apontar para o futuro. A elegância e a beleza desse gesto contagiaram toda uma geração. E no início fez-se Vilas Volantes.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mostra Cearense Contemporâneo – dia 2 (domingo)

Mostra Cearense Contemporâneo – dia 2

por Marcelo Ikeda

Dois dos curtas da sessão de domingo da Mostra Cearense Contemporâneo dialogaram com valores locais da região do Cariri. Corpos Sagrados, de Mariana Porto, aborda uma antiga tradição da região de Barbalha, em que uma árvore é cortada e seu pesado tronco é carregado pela cidade. O cansaço e o suor dos corpos se misturam ao prazer de participar do rito e às brincadeiras que surgem do contato entre a multidão. Mariana Porto utiliza um conjunto de estratégias visuais mas em geral seu curta prima pela opção em mostrar a tradição sendo pouco didático, investindo mais no caminho dos corpos. Depoimentos de pessoas locais se confundem a planos de câmera lenta, oscilando a cor e o P&B, dando ao curta um olhar fragmentado mas não raras vezes irregular.

A Curva, de Salomão Santana, é filmado na região de Juazeiro. Ou melhor, é uma reavaliação de um material gravado em VHS nos anos oitenta, com a primeira câmera VHS que chegou à região, na inauguração de uma revista local. Salomão, portanto, relocaliza esse material de arquivo, deslocando o olhar do espectador para um material que a princípio teria um interesse bastante restrito, como uma filmagem amadora, análoga aos registros de casamentos e batizados. A Curva, dessa forma, se torna essencialmente uma radical operação de resignificação de um olhar. Salomão não filmou um único plano do filme: a magia de seu filme é a operação de transposição de um material de um contexto específico para outro. Assim as condições de recepção influenciam diretamente na apreensão dessas imagens. Através dessa simples operação de deslocamento, Salomão incide sobre elementos básicos do processo de construção de imagens, quando um documentarista se confronta com um rosto. A frontalidade da câmera na abordagem e a luz dura que incide sobre as pessoas acabam por diretamente influenciar a relação das pessoas com a câmera. O registro nunca é imparcial: existe um certo incômodo das pessoas por serem filmadas, e ao mesmo tempo um prazer em serem registradas. Esse jogo entre a invasão de uma intimidade e a sedução do olhar da câmera promove inúmeras camadas que se desdobram no rosto das pessoas, em como elas evitam ou se aproximam do olhar da lente. De outro lado, existe nós, o público espectador, que tenta se relacionar com essas imagens com um misto de encanto e de distanciamento, já que esse universo que fala do outro nos é a princípio estranho: as roupas e os penteados das pessoas, a forma de filmagem, etc. Mas por outro lado somos nós. Dessa tensão entre o olhar da câmera, o olhar das pessoas, e o olhar oculto do público, o misterioso A Curva – já pelo seu título – é um enigma: por trás de uma simples operação de deslocamento de um material “amador”, Salomão promove uma profunda reflexão sobre a natureza da produção e da recepção de imagens.

Outros dois curtas inserem o típico perfil da nova cena que se estabelece em Fortaleza. Vista Mar, projeto de conclusão da primeira turma da Escola do Audiovisual em Fortaleza, mostra um olhar inventivo para o documentário que foge das estratégias tradicionais de depoimentos ou temas históricos. Para falar do abismo que envolve a cidade de Fortaleza, os diretores de Vista Mar escolheram abordar os apartamentos da Avenida Beira-Mar, o metro quadrado mais caro de toda a cidade. No entanto, diferentemente da estratégia de Um Lugar ao Sol, que busca ridicularizar os moradores, mostrando-os como fúteis ou levianos, Vista Mar mergulha no vazio: grande parte desses apartamentos está simplesmente à venda, à procura de um morador. O vazio desse amplo espaço avança portanto do meramente geográfico (o filme rastreia os corredores, os halls de entrada, as inúmeras suítes) para um contexto que vai além do físico: o absurdo dessa própria situação de desigualdade. Ou seja, a ironia passa a coabitar a própria estrutura do curta, e não simplesmente da relação entre os depoimentos e a montagem. Ainda, Vista Mar é provocativo porque se utiliza da ironia: o curta se abre com uma paródia de um anúncio publicitário de venda desses apartamentos, caricaturizando uma suposta simulação das estratégias visuais e sonoras dessas peças audiovisuais. Em complemento a isso, há uma surpreendente estratégia de abordagem: para ter acesso aos apartamentos, a equipe do curta se fez passar por uma equipe de filmagem contratada por um grande empresário de São Paulo, iludindo os corretores a apresentarem os apartamentos como um potencial de venda. A forma curiosa como o curta se desdobra entre a ironia, entre a provocação da ética da forma de abordagem e o exame crítico da vida desigual em Fortaleza tornam Vista Mar um documentário surpreendente, atípico, que exemplifica o desejo de contestação dessa nova geração do audiovisual de Fortaleza.

A ironia é uma das chaves de Longa Vida ao Cinema Cearense, curta-manifesto realizado pelos Irmãos Pretti, dois cariocas que chegaram em Fortaleza e começaram a interagir com a cena audiovisual da cidade, através de cursos sobre cinema contemporâneo e estimulando a produção com “orçamento zero”. Longa Vida é ao mesmo tempo uma ode e um manifesto. De um lado, ele parece criticar um contexto oficialesco para a realização audiovisual no Brasil, baseada em editais de seleção de projetos: um diretor com uma máscara de Mickey Mouse (influência do curta Espuma e Osso) tem seu projeto recusado por uma comissão. Por outro, é um “brinde à resistência”, quando, na segunda parte, as estratégias de ironia se desfazem, quando as máscaras dos personagens são deixadas na rua, e passamos – sem “música-clima” e sem uma imagem “mega colorida” – a simplesmente acompanhar o percurso dos realizadores (agora não mais personagens) pelas ruas do Centro de Fortaleza no amanhecer do dia. Essa insistência no percurso e nos planos longos, calcando a realização muito mais num processo ininterrupto do que num ponto de chagada, que tanto marca o cinema dos Irmãos Pretti, é uma das chaves de entrada no posterior Estrada Para Ythaca, cuja inesperada repercussão marcou o amadurecimento do coletivo Alumbramento.

Ao mesmo tempo, um curta da sessão comprova que juventude não é questão de idade, e sim de espírito. La Muerte é um exemplo da vitalidade inventiva do trabalho do veterano Firmino Holanda, que, mesmo recluso, permanece realizando em Fortaleza. Firmino possui uma posição tão curiosa nesse cenário que teve curtas incluídos em todas as sessões da Mostra Cariri: além de La Muerte no Cearense Contemporâneo, Capistrano no Quilo foi exibido no Panorama Cearense, e Na Pele, no de Animação. La Muerte é um ensaio visual que reflete não tanto a morte, mas propriamente sua representação através de imagens e de ritmos. Evocando seja os primeiros ensaios fotográficos de Muybridge seja o cinema de montagem de Eisenstein, Firmino propõe uma relação ambígua entre a fotografia e o cinema, ou ainda, entre o estático e o movimento. A notável articulação entre a imagem e o som e o ritmo particular que pulsa da montagem mostram o refinamento da juventude de Firmino Holanda, ainda que ela interaja pouco com o atual caldo cultural de renovação do audiovisual da cidade.

domingo, 14 de novembro de 2010

Filmes do DIA 14 - Mostra Cinema Contemporâneo Cearense


Na sessão de hoje temos a exibição de cinco curtas, dentre eles “A Curva”, de Salomão Santana, com imagens em VHS de Juazeiro do Norte; “Vista Mar” , direção coletiva, que adentra o ideário de “qualidade de vida” dos prédios á beira mar de Fortaleza; “Corpos Sagrados”, de Mariana Porto, que acompanha a festa do pau de Barbalha; Firmino Holanda com um retrato bem peculiar em “La Muerte”; e uma alegoria nada comum do desejo de cinema em “Longa Vida ao Cinema Cearense”, dos irmãos Prettis.

Logo após a sessão conversa com o realizador Salomão Santana e parte da equipe de Vista Mar.

Não deixe de ir! No auditório do CCBNB as 19hs. Juzeiro do Norte, Cariri.

Mostra Cearense Contemporâneo - dia 1 (sábado)

Mostra Cearense Contemporâneo - dia 1 (sábado)

por Marcelo Ikeda

Neste sábado às 19hs houve o início das sessões da Mostra Cearense Contemporâneo na Mostra Sesc Cariri de Cultura 2010, na cidade de Juazeiro do Norte, interior do Ceará. Antes, a primeira questão que se deve colocar é sobre o porquê da realização dessa mostra, em separado do Panorama do Cinema Cearense, mais amplo, mais geral. Selecionar, definir o recorte de uma certa produção é de fato o objetivo central de uma curadoria. Quando um curador seleciona alguns filmes para compor uma mostra dentro de um panorama mais amplo, ele inevitavelmente faz um recorte: ele recorta para chamar a atenção de filmes que se interrelacionam por ter características em comum que possibilitem um diálogo. Ou seja, esse recorte oferece para o público um diálogo, deixa mais claro para o público o que se quer propor. O problema dos panoramas amplos, como o Panorama Cearense, é ser apenas um apanhado de uma produção ampla, que o dever de tentar cobrir todas as facetas dessa produção impossibilita um debate mais aprofundado sobre o mesmo, dificulta trazer à tona uma questão cinematográfica e tentar desenvolvê-la junto ao público. Por isso vejo com bons olhos a realização de recortes, como a Mostra Cearense Contemporâneo, justamente por reunir uma parcela de uma produção cearense que possui elementos em comum, trazendo ao público uma possibilidade de um diálogo sobre questões cinematográficas que vão além do mero reconhecimento de um amplo leque de filmes. Ou seja, esse recorte é feito por questões essencialmente estéticas, propositivas, e não “separatistas”, de segregar uns filmes dos outros, ou ainda por questões bélicas ou meramente oportunistas e politiqueiras.

O filme escolhido para abrir a mostra, em casamento com o dia da semana e horário de sua realização, foi Sábado à Noite, de Ivo Lopes Araújo, talvez o mais radical dos filmes em exibição. Ou seja, de um lado, a mostra oferece de cara o seu perfil característico, sua vontade por um cinema sem concessões, por outro, causou inevitável estranhamento ao público presente. De qualquer modo, rever Sábado à Noite é sempre uma oportunidade de reavaliar uma trajetória, apesar de ainda muito recente. Isto é, apesar de Sábado à Noite ser um filme bastante contemporâneo, cuja primeira exibição foi em 2007, através do percurso do filme não deixa de coexistir o próprio percurso de uma geração em busca de sua identidade. Muita coisa já aconteceu entre 2007 e 2010, apesar de ser tão pouco tempo. Esses três anos marcaram a consolidação de uma nova geração do audiovisual aqui no Ceará e o estabelecimento de uma rede de contatos – estéticos, políticos, afetivos – em todo o Brasil: Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais. E Sábado á Noite é o primeiro passo definitivo nesse processo, um filme que abre caminhos por oferecer uma possibilidade direta, concreta, de construir essas pontes, sem abrir mão de um pensamento e de uma prática cinematográfica pulsantes, radicais, vibrantes.

Por trás da solidão do olhar de Sábado à Noite para a cidade de Fortaleza, existe, como o próprio filme faz questão de destacar, a união de uma equipe em torno de um projeto comum: ou seja, esse olhar solitário é fruto do desejo de uma equipe, pequena, mas unida. É como se se dissesse: “somos poucos, mas somos juntos; somos enquanto juntos.” Ou ainda: “juntos, transformamos nossas solidões em uma potência.” O paradoxo dessa pulsão talvez seja a grande característica que justifica o recorte dessa curadoria.

Esse paradoxo é refletido esteticamente nesse filme em particular por uma tensão muito singular, entre a imobilidade e o movimento, entre a fixidez e o fluxo. Se por um lado Sábado à Noite assume um estado de quietude, com planos extremamente longos, em que boa parte deles há pouquíssimo movimento de câmera, desconstruindo um clichê do “sábado à noite” como momento áureo do encontro e da subversão da rotina da semana, por outro lado, há um movimento incessante ao longo de todo o filme: movimento dos carros ao longo da estrada, deslocamento da equipe à procura de seus personagens. É como se o filme estivesse sempre, o tempo todo, à procura de algo que lhe escapa pelas frestas dos dedos das mãos. Quando tenta se apegar a algo, aquilo foge, de modo que toda a procura do filme é por algo fugidio, transidio, que não lhe completa. Essa busca incessante revela-se como o próprio motor de um filme cuja lógica é a da curiosidade por uma busca que não se sabe ao certo o que é, mas ao mesmo tempo contrária a uma “lógica da perseguição”, como no cinema clássico. Em Sábado à Noite, essa “curiosidade” por vasculhar um espaço-tempo curiosamente leva ao espectador a um desejo não de encontrar propriamente algo nessas imagens, mas sim deixar-se perder nelas. A forma despojada, corajosa com que Ivo se lançou nessa aventura de arremessar-se ao vazio dessa procura, que ao final não deixa de se revelar angustiante mas telúrica, e seu poder de envolver carinhosamente uma equipe nesse processo – apesar de inevitavelmente pequena (um filme feito por poucos, para poucos, mas sempre de forma intensa) – alimentou um conjunto de filmes que, em maior ou menor grau, tentou prosseguir por esse caminho, enxergou nesse caminho uma possibilidade concreta, uma espécie de luz, ainda que em preto-e-branco. Um caminho que certamente é um caminho sem volta.

sábado, 13 de novembro de 2010

"Sábado à Noite" abre Mostra de Cinema Contemporâneo Cearense




Ivo Lopes Araújo estará presente em exibição do instigante e emblemático longa-metragem "Sábado á noite", um filme sobre fortaleza.

Juntamente com Ivo Lopes teremos a presença de outros integrantes da equipe, os montadores Alexandre Veras e Fred Benevides, os produtores Ythallo Rodrigues e Rúbia Mercia.

Hoje, ás 19hs no Auditório do CCBNB Juazeiro.
Não perca o filme e esse bate-papo com os realizadores.

Para incrementar, seguem textos sobre o filme e entrevista com realizador em matéria feita pela revista Contracampo na época de exibição do filme em festivais:

Crítica:

Entrevista:
http://www.contracampo.com.br/91/artentrevistaivo.htm

Boa sessão!

Cinema ao vivo em todos os lugares


A turma do Cinema ao vivo (Julio, Valente, Jaime e Bruno) estão expandindo o territorio geografico de seus trabalhos. Após projeção na Superficie da estátua de Padre Cícero, o movimento se deslocou para o galpão antigo da Rua São Pedro, ontem de noite, e segue hoje com a abertura da exposição "Cinema desinstalado" na galeria do SESC Juazeiro.

Ainda haverão outras projeções ao vivo pela cidade. Fiquem de olhos atentos e coração aberto.

Texto de Apresentação da Mostra Contemporânea

Apostas e riscos. Compor uma mostra é sempre apostar em algo que não se sabe certo de seus caminhos. É apostar nas infinitas diferenças e afinidades dos filmes como percurso de um movimento de ida. Os caminhos da “Mostra de Cinema Cearense Contemporâneo” são impulsionados por filmes que nos interessam colocar juntos certas proposições e inquietudes - que passam por nossos gostos, afeições, questionamentos. É o risco de tomar uma posição de recorte, inevitável em qualquer curadoria. Escolhas que, no momento em que se dá a projeção desses filmes, descobrimos o que eles podem nos proporcionar de reação e reflexão. É colocar junto as motivações mais diversas, das mais próximas de nós àquelas um pouco mais distantes. É impulsionar um movimento a partir de nosso pensamento. Movimento-cinema. É desejo de compartilhar.
Rúbia Mércia I Curadoria
Victor Furtado I Direção Geral

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Hoje tem Cinema ao Vivo!


Ontem novo encontro foi marcado no SESC Juazeiro, na foto Bruno Viana explica a performance de Cinema ao Vivo que acontecerá hoje as 18hs na colina do Horto aos pés da estátua do Padre Cícero.

Panorama do Cinema de Animação Cearense




O futuro é agora mesmo

Marcelo Ikeda


O momento atual é de uma verdadeira revolução nos modos de viver e ver o cinema cearense. Em paralelo aos cineastas que consolidaram o cinema do estado e que vem lutando por sua inclusão nos movimentos de política pública audiovisual no Brasil, como Rosemberg Cariri, hoje Presidente do CBC, e Wolney Oliveira, diretor-geral do Cine Ceará, vemos surgindo uma geração de jovens realizadores produzindo filmes com baixíssimo orçamento, com indiscutível projeção no cenário nacional e internacional. Numa transformação que paulatinamente vem a ocorrer em escala nacional, impulsionada pelo acesso às novas tecnologias e pela curiosidade por um cinema inventivo, que vem sendo chamado pela crítica de “novíssimo cinema brasileiro”, os filmes do Ceará recebem atenção especial. Tal papel de destaque ficou claro em matéria na mais famosa revista de cinema de todo o mundo, a prestigiosa Cahiers du Cinema, que afirma que o mais interessante cinema brasileiro de hoje é realizado à margem das produções oficiais, distante do eixo Rio-São Paulo, e sim no Nordeste, destacando os filmes Pacific, do pernambucano Marcelo Pedroso, e o cearense Estrada Para Ythaca. Essa produção vive à margem não só dos financiamentos estatais e dos editais tanto a nível federal quanto estadual mas também do próprio circuito comercial, cada vez mais restrito. No entanto, são esses filmes que vêm destacando o nome do Brasil nos principais festivais internacionais ligados a um cinema renovado, de transformação de linguagem. Quanto ao cinema cearense, apenas nos últimos dois anos, tivemos a exibição de A Mulher Biônica, de Armando Praça, no Festival de Clermont-Ferrand, de Flash Happy Society, de Guto Parente, nos Festivais de Hamburgo e de Tampere, e que culminou recentemente com a seleção de O Mundo é Belo, de Luiz Pretti, para a Mostra Orizzonti, do Festival de Veneza.

Os primeiros sinais visíveis desse movimento no Ceará foram provocados por dois projetos oriundos do DOCTV: Vilas Volantes, de Alexandre Veras, e Sábado à Noite, de Ivo Lopes Araújo. Em seguida, a produção se multiplicou, estabelecendo-se por um relação de produção cujo principal mote é a flexibilidade, em que as novas tecnologias permitiram o acesso quase instantâneo ao top do cinema contemporâneo, além de facilitar a integração dos cineastas alternativos em todo o Brasil. Realizadores do Ceará participam cada vez mais intensamente de projetos comuns com artistas de Pernambuco e Minas Gerais, por exemplo, formando relações em rede, múltiplas e dinâmicas, estabelecendo entre si pontes estéticas, políticas e afetivas. Essa característica de flexibilidade foi combinada com um forte movimento de formação, começando pelos pioneiros cursos do Alpendre, passando pelos cursos livres do Dragão do Mar, até desembocar no brilhante projeto acadêmico da Escola do Audiovisual, um curso de realização de dois anos, sediado na Vila das Artes, em Fortaleza, com uma inovadora estrutura modular, trazendo professores e profissionais de todo o país. Essa experiência teve posteriormente sua continuidade no ingresso da primeira turma do Curso Superior de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará neste ano de 2010.

Talvez o filme que melhor resuma o espírito dessa nova geração seja o longa-metragem Estrada Para Ythaca, realizado por quatro diretores: Luiz e Ricardo Pretti, Guto Parente e Pedro Diógenes. Realizado de forma completamente independente, num projeto coletivo, praticamente todo realizado pelos quatro diretores, Ythaca promoveu um destaque para a atual cena cearense ao receber o prêmio de melhor filme no Festival de Tiradentes em 2010. Neste filme, a irreverência se mistura à melancolia, o percurso pelo interior do Ceará escapa ao olhar rural típico do cinema da região, o tempo e o espaço sofrem transformações inesperadas, em que o prazer pelo processo vale muito mais do que a busca por um “porto seguro”. Os personagens oferecem um “brinde à resistência”, mas poderia ser um brinde à liberdade, já que, afinal de contas, é como se o futuro fosse agora mesmo.



De 13 a 17 de novembro, à partir das 19hs
Local: CCBNB Juazeiro do Norte

Um novo caminho para a arte: O Cinema ao vivo




Ontem no SESC Juazeiro, aconteceu a primeira atividade da Exposição 100 por 100 - Mostra do Cinema desinstalado, reunindo estudantes, artistas e cineclubistas. Bruno Viana e Valentim Kment debateram sobre as novas possibilidades do Audiovisual e as diversas formas de interação com o público. Hoje, 14 horas também no SESC, foi marcado um segundo momento onde serão apresentadas as propostas de ação no Horto dia 11/11 e no Galpão Audiovisual dia 13/11.

Cartaz da Mostra de Cinema Cearense Contemporâneo


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Programação Exposição 100 por 100 - Mostra do Cinema Desinstalado

Calendário:

Dia 9 – Produção: Reuniões e oficinas preparatórias (presença de interessados)
Dia 9 – Debate: Um novo caminho para a arte: O Cinema ao vivo
Bruno Vianna e Valentim Kment
Dia 10 – Produção: Mapeamento, definição de lugares e horários de performances
Dia 11 – Performances de Cinema ao Vivo (3 performances)
Dia 12 – Performances de Cinema ao Vivo (3 performances)
Dia 13 – Mesa Histórias e Perspectivas da Exibição no Brasil
Dia 14 – Abertura da exposição 100 por 100

Local: SESC Juazeiro
Informações: (85) 8801.6429

domingo, 7 de novembro de 2010

Agenda compartilhada

Bem-vindo!

Seja bem-vindo ao nosso blog! Aqui postaremos, além da programação, a cobertura completa, dia-a-dia, sobre tudo relacionado ao núcleo audiovisual na XII MOSTRA SESC CARIRI DE CULTURA | 2010.

Abaixo a vinheta desta edição, assinada pelo cineasta e animador cearense, Diego Akel. =D